"Condições climáticas quase insulares (não representada em Portugal continenta).l
ÅM X SM Ambiente subtropical de feição macaronésica, com influências submediterrânicas.
Sobreiro, Myrica faia, Quercus canariensis. Zona costeira entre Melides e perto do
Cabo de São Vicente; Serra de Monchique, abaixo de 400m.
Q2<100"
que giro....tal como eu suspeitava....dai eu ter feito aquela divisao no inicio...que até é parecida com a do senhor rivas martinez
Tenho feito ultimamente trabalho de campo em Sintra e após alguma pesquisa reparei no interessante número de espécies ditas macaronésicas encontradas nesta região, sobretudo, nos muito poucos vales isolados, que conservam uma temperatura amena e valores de humidade elevados.
No Algarve chamam à Serra de Monchique, a Sintra do Algarve e agora mais que nunca acho-as, em certos aspectos e regiões, algo semelhantes.
Fiz um pequeno apanhado de uma parte da realidade da flora sintrense, que embora em parte já conhecesse, me deixou bastante surpreendido, não só pela complexidade dos números, como pela existência de espécies relíquia supostamente extintas a estas latitudes ou pela beleza e singularidade de alguns exemplares:
Das mais de mil espécies de plantas encontradas em Sintra, cerca de 900 espécies são flora autóctone, metade das quais mediterrânicas ou oeste-mediterrânicas, cerca de 10 % são endemismos (plantas que a nível mundial só se encontram em determinada área), algumas são espécies macaronésicas subtropicais ameaçadas ou espécies-relíquia da vegetação que aqui existia antes da última glaciação e que continuam a encontrar na Serra de Sintra condições para sobreviver. Sintra reúne solos com alcalinidades totalmente opostas e diversas, desde solos acículas como calcículas e geralmente com boa densidade orgânica permitindo uma grande diversidade florística.
O feto-de-folha-de-hera (Asplenium hemionitis), o trovisco-nortenho (Daphne laureola) e o miosótis-das-praias (Omphalodes kuzinskyanae) espécies em Perigo de Extinção ou em Perigo Crítico de Extinção em território continental, correspondem nas áreas onde ocorrem populações destas espécies, a Áreas de Valor Florístico Excepcional.
Apresenta também zonas com endemismos nacionais, em que plantas como o tojo-gatunho (Ulex densus), a Raíz-divina (Armeria welwitschii) e a Lonopsidum acaule ainda prosperam e até plantas que apenas são encontradas nesta região como o cravo-romano ( Armeria pseudarmeria).
Assim em Sintra ocorrem espécies de flora típica de 3 grandes regiões Biogeográficas de forma espontânea:Atlântica, Mediterrânica e Macaronésica. A ocorrência de velhos indivíduos de samouco (Myrica faya), do trovisco nortenho (Daphne laureola) e dos fetos Davallia canariensis, Asplenium hemionitis, Dryopteris guanchica e Woodwardia radicans, de plantas cada vez mais raras como o azevinho (Ilex aquifolium), o azereiro (Prunus lusitanica), ou aromáticas como o loureiro (Laurus nobilis), o medronheiro (Arbutus unedo), a visível expansão do vinhático (Persea indica) e do til (Ocotea foetens), constituem exemplos vivos que tornam impossível dissociar a Serra de Sintra de um carácter macaronésico. Vales abrigados, sombrios e com bons níveis de humidade são as zonas de influência macaronésica, que graças a condições particularmente amenas permitiram a sobrevivência de espécies relíquia da laurissilva que existiam na zona mesmo antes da última glaciação.
Será o local mais setentrional de toda a Península Ibérica Continental, onde crescem variados e inegáveis exemplos de uma expressão macaronésica?
As espécies encontradas de carvalho em Sintra são variadas, indo desde o atlântico carvalho-alvarinho ( Quercus robur), passando pelo carvalho-negral ( Quercus pyrenaica) que marca a zona de transição e que tolera condições mais áridas, ao carvalho-cerquinho ( Quercus faginea) com características Oeste Mediterrânicas típicas das regiões calcáreas da Estremadura, o sobreiro ( Quercus suber) que prefere as zonas baixas de Sintra ( formando no entanto florestas densas em zonas relativamente altas, não atingindo nestes casos, contudo, um grande porte), o mediterrânico carrasco ( Quercus coccifera ) que gosta de solos secos e com boa exposição solar e o carvalho anão ou carvalhiça ( Quercus lusitanica) que não atinge grande porte e cresce em bermas de caminhos.
Nogueiras ( Juglans regia) ,freixos ( Fraxinus angustifolia), alecrineiros (Rosmarinus officinalis, castanheiros (Castanea sativa), o bordo (Acer pseudoplatanus), a aveleira (Corylus avellana), pilriteiro (Crataegus monogyna), o sanguinho das sebes (Rhamnus alaternus), o ademo (Phillyrea latifolia), o folhado (Viburnum tinus), a murta (Myrtus communis) e a gilbardeira (Ruscus aculeatus), madressilvas ( Lonicera implexa) entre tantas outras, formam bosquetes cada vez mais raros de se encontrar, tendo sido observados alguns com apenas cerca de 300 metros de comprimento por 40 metros de largura, rodeados de pinhais não nativos.
Muitas florestas em Sintra são uma mistura interessante de árvores nativas com exóticas, embora por vezes algumas espécies introduzidas atinjam níveis de praga.
Faias, sequóias-gigantes, fetos-arbóreos, tamareiras, palmeiras-das Canárias, bananeiras, árvores do incenso, figos da terra ( ou chorões), eucaliptos e acácias de várias espécies, são algumas das exóticas encontradas, com origens de variadas partes do mundo, sendo que as espécies consideradas problemáticas são sobretudo as acácias, os eucaliptos, as árvores do incenso e os chorões que sobretudo nas zonas litorais sintrenses ocupam vastas áreas e pôem em causa a sobrevivência de plantas de enorme valor botânico. O excesso de pinheiro-bravo ( nativo mas plantado em larga escala) também é prejudicial.
Actualmente verifiquei que algumas plantas «climácicas», conseguem no entanto crescer à sombra de árvores exóticas, tal como o medronheiro, o azevinho, o carvalho- cerquinho e o carvalho- anão.
Dentro do parque natural de Sintra-Cascais, as precipitações variam desde os Semiáridos menos de 400 mm do Cabo Raso aos subhúmidos mais de 950 mm do alto da Pena ( actuando a Serra como barreira de condensação), factor que associado a variações de temperatura que desce conforme se sobe a serra ( cerca de 14,5 de média anual) e sobe conforme se desce ( a mais de de 16ºc de média anual) explica a enorme paleta paisagística que se vê nesta zona da Estremadura portuguesa.
Algumas fontes usadas:
http://portal.icnb.pt/NR/rdonlyres/79EAD4B4-4526-45F9-96B3-09CCF8B667A0/0/ATLASDOPNSC60P.pdf
http://mwmservices.net/adps/ADPS_Comunicado_03.html
Alguns aspectos de diferentes regiões:
Floresta natural húmida de montanha ( Zona Atlântica).
Jardins exóticos em zonas húmidas altas de « nevoeiro».
Associação de sobreiro com o raro feto Davallia canariensis.
Conforme se caminha para locais mais secos:
Aspecto do Cabo Raso ( com Sintra ao fundo a actuar como barreira de condensação).
Dunas do Guincho ( com a Serra de Sintra visível ao fundo).