Gado bovino português e o Auroque

belem

Cumulonimbus
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A Maronesa, lembro-me que ficou em primeiro em termos de pontuação.

Deixo aqui de novo, as raças usadas no Programa Tauros:

1024px-TaurOs_breeds.jpg

https://en.wikipedia.org/wiki/Tauros_Programme

A Maronesa é a que está no canto superior direito e o auroque, é o que está mais abaixo (de todas as raças).

Mas existem certos exemplares de Raça Barrosã/Cachena e de Raça Brava (ou touro de lide ibérico em geral) que deveriam ter quase certamente uma pontuação também muito alta.
Nas Américas, ainda existem algumas raças, descendentes de algumas raças portuguesas e espanholas (Corrientes, Touro de Lide, etc...), que têm alguns criadores que não misturaran o seu gado com zebu, e assim estes bovinos também poderiam ter uma boa pontuação.
Noto particulamente, que existem encastes sul-americanos de touro de lide, com animais bem desenvolvidos, e que aparentemente, são mais comuns lá, do que na própria P. Ibérica.
Eventualmente a pressão seletiva feito pelos humanos, tem sido mais intensa na Ibérica (pelo menos, nas últimas décadas).
Pode ser que também se esteja a reduzir a variedade genética de cada encaste ibérico, ao ponto, em que prejudica a saúde e o fenótipo dos animais (a metodologia de criação utilizada por.alguns criadores, não é mais indicada).


Encontrei este video no youtube, e ainda que não sejam bons exemplos de Maronesas primiitivas,dá gosto de ver gado nestas boas condições:



Aqui está uma vaca Maronesa de grandes dimensões, que existia na quinta onde hoje se estão a criar Maronesas primitivas (Vila Pouca de Aguiar):

15hmza0.png


Não é das melhores que tenho visto (os chifres deviam ter uma posição mais alta, por exemplo), e já coloquei aqui «melhores» exemplos, mas é um exemplar interessante.
 
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belem

Cumulonimbus
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A raça que aparece neste vídeo é a Maronesa e não é o resultado de 4 raças, como dizem no video.
E não existem intenções de cruzar a Maronesa nessa reserva (houve no passado, mas a tentativa falhou), mas sim de preservar o tipo primitivo e assim criar algo mais próximo do auroque:



Aparecem no vídeo algumas das vacas que eu selecionei.
 

Pedro1993

Super Célula
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Raça Mirandesa de tipo primitivo um tesouro genético em perigo:



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Todas as nossa raças autóctones de animais deveriam de ser muito mais preservadas, e incentivar a sua criação, acho que nunca tinha visto um indivídio desta raça tão característica, o que me chamou logo a atenção foi pela cor tão diferente no alto da sua cabeça, entre os cornos.
Estas raças ainda são preservadas pelas pessoas já de idade avançada, no norte principalmente, e quando essas pessoas já não tiverem mais possiblidades de continuar com esse trabalho, acaba-se assim por perder um grande legado.
 

belem

Cumulonimbus
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Sem dúvida, existem algumas raças autótones em risco de desaparecer (e pelas fotos e descrições que me chegam, algumas possivelmente já desapareceram durante o séc. XX).
Um erro que muita gente comete é olhar para numeros puros e duros (relativamente ao numero de animais inscritos no livro genealógico), mas isso não nos dá uma ideia completa da situação de algumas raças.
A raça Mirandesa, que até é relativamente numerosa, pelo que parece está a sofrer de um grave processo de erosão genética.
A Maronesa, se nada for feito, para lá caminha (no lado paternal).
E depois temos os fenótipos de tipo primitivo e de grande valor pecuário, ecológico e conservacionista, a ficar cada vez mais raros, em todas as raças.
Até os Mirandeses de enorme tamanho (alguns praticamente tão altos ao ombro como um homem de estatura média), que poderiam ser muito vantajosos de criar, são cada vez mais uma raridade.
 
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belem

Cumulonimbus
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Touros jovens aos 5.52 minutos (interessante o desenvolvimento de uma espessa pelagem):



Alguns destes touros poderão tornar-se bons exemplos de touro bravo.

A raça Brava, é uma das raças, onde está previsto o início de um projeto de conservação do tipo primitivo (no qual vou participar).
Com a Maronesa, já foi possível arrancarmos com tal projeto, agora falta a Raça Brava, a Raça Barrosã/Cachena.
Possivelmente, algo poderá ser feito com a Mirandesa, mas a ver vamos...
 

belem

Cumulonimbus
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Ao longo do tempo, vou-me apercebendo que muito provavelmente houve a introgressão de diferentes auroques, em algumas das nossas autóctones (sobretudo via paterna ou seja com os auroques machos a cobrirem vacas domésticas).
Todos os que temos aparentemente pertencem ao tronco taurino e o ramo do Barrosão/Cacheno, possivelmente representa uma variação muito mais rara, talvez pertencente à variação norte africana (e estudos morfológicos/arqueológicos indicam que o auroque provavelmente teve origem no Norte de África).
Estudos genéticos indicam a possibilidade de vários auroques que existiam no Sul da Europa terem uma relação próxima com os do Médio Oriente e até com os do Norte de África.
A subespécie ophistonomus ou mauretanicus parece não ser válida e não passar de uma variação regional do auroque euroasiático.
Existiram auroques na Europa, com uma armação mais alta do que o normal, tal como vemos no touro Cacheno postado acima, ainda que não fossem os mais comuns.
Na Raça Maronesa e no Touro Bravo, podemos ver uma variação com uma inserção de chifres mais baixa, que em alguns indivíduos ainda permite atingir o mesmo ângulo que existia em alguns auroques.
No touro bravo, existem numerosas linhagens paternais, completamente únicas e que têm sido associadas ao auroque europeu/euroasiático.
A raça Maronesa, apenas partilha parentes paternos com o touro-bravo, com o Barrosão e com o gado Charolais.
Provavelmente um touro português foi usado como semental principal da raça Charolesa, no passado.

Poderá até ter sido relativamente comum a introgressão do auroque em gado doméstico, em particular em locais onde o gado (em regime extensivo) apascentava ao ar livre, em boa parte do ano (pelo menos durante o Neolítico e a Idade dos Metais).
O que mais surpreende nem é a introgressão (porque o gado doméstico é basicamente um auroque domesticado), mas sim manutenção dos descendentes do auroque até aos dias de hoje (sobretudo mesmo até após a Revolução Industrial).
Como devem calcular, para quem quer gado doméstico, pode não ser sempre vantajoso criar gado mais selvagem (o gado fica mais nervoso, ágil e com chifres mais opulentos). Ainda que apresente também algumas vantagens (gado mais independente, de maior talhe e mais resistente às doenças e aos predadores).
No entanto, e em termos mundiais, houve uma diminuição da diversidade genética do gado, assim como linhagens mais domesticadas foram favorecidas sobre as mais selvagens.
Pode ter ajudado a proteger estas linhagens (em Portugal e em Espanha), o facto de teimarmos em manter gado em grande número em zonas menos propícias para agricultura (montanhas) com o objetivo principal da tração animal (tendo o leite e a carne uma importância secundária) onde a mecanização e as raças mais domésticas tinham mais dificuldade em penetrar.
Também porque foi mantido gado para fins mais insólitos como lutas e espetáculos tauromáquicos (que não podia ser substituído por raças estrangeiras, mais domesticadas e especializadas na produção de leite e carne).
No entanto estas linhagens, de grande valor conservacionista, correm risco de desaparecer, mesmo após ter passado o período crítico da Revolução Industrial.
 
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camrov8

Cumulonimbus
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Ao longo do tempo, vou-me apercebendo que muito provavelmente houve a introgressão de diferentes auroques, em algumas das nossas autóctones (sobretudo via paterna ou seja com os auroques machos a cobrirem vacas domésticas).
Todos os que temos aparentemente pertencem ao tronco taurino e o ramo do Barrosão/Cacheno, possivelmente representa uma variação muito mais rara, talvez pertencente à variação norte africana (e estudos morfológicos/arqueológicos indicam que o auroque provavelmente teve origem no Norte de África).
Estudos genéticos indicam a possibilidade de vários auroques que existiam no Sul da Europa terem uma relação próxima com os do Médio Oriente e até com os do Norte de África.
A subespécie ophistonomus ou mauretanicus parece não ser válida e não passar de uma variação regional do auroque euroasiático.
Existiram auroques na Europa, com uma armação mais alta do que o normal, tal como vemos no touro Cacheno postado acima, ainda que não fossem os mais comuns.
Na Raça Maronesa e no Touro Bravo, podemos ver uma variação com uma inserção de chifres mais baixa, que em alguns indivíduos ainda permite atingir o mesmo ângulo que existia em alguns auroques.
No touro bravo, existem numerosas linhagens paternais, completamente únicas e que têm sido associadas ao auroque europeu/euroasiático.
A raça Maronesa, apenas partilha parentes paternos com o touro-bravo, com o Barrosão e com o gado Charolais.
Provavelmente um touro português foi usado como semental principal da raça Charolesa, no passado.

Poderá até ter sido relativamente comum a introgressão do auroque em gado doméstico, em particular em locais onde o gado (em regime extensivo) apascentava ao ar livre, em boa parte do ano (pelo menos durante o Neolítico e a Idade dos Metais).
O que mais surpreende nem é a introgressão (porque o gado doméstico é basicamente um auroque domesticado), mas sim manutenção dos descendentes do auroque até aos dias de hoje (sobretudo mesmo até após a Revolução Industrial).
Como devem calcular, para quem quer gado doméstico, pode não ser sempre vantajoso criar gado mais selvagem (o gado fica mais nervoso, ágil e com chifres mais opulentos). Ainda que apresente também algumas vantagens (gado mais independente, de maior talhe e mais resistente às doenças e aos predadores).
No entanto, e em termos mundiais, houve uma diminuição da diversidade genética do gado, assim como linhagens mais domesticadas foram favorecidas sobre as mais selvagens.
Pode ter ajudado a proteger estas linhagens (em Portugal e em Espanha), o facto de teimarmos em manter gado em grande número em zonas menos propícias para agricultura (montanhas) com o objetivo principal da tração animal (tendo o leite e a carne uma importância secundária) onde a mecanização e as raças mais domésticas tinham mais dificuldade em penetrar.
Também porque foi mantido gado para fins mais insólitos como lutas e espetáculos tauromáquicos (que não podia ser substituído por raças estrangeiras, mais domesticadas e especializadas na produção de leite e carne).
No entanto estas linhagens, de grande valor conservacionista, correm risco de desaparecer, mesmo após ter passado o período crítico da Revolução Industrial.
pode tambem ser e falas-te das zonas mais agrestes logo um animal com força e capaz de meter um urso em xeque é muito util, já li que as raças serranas do norte ainda apresentam instinto de protecção contra o lobo (não conheço ataques de lobos a bovinos ) mas voltando a traz até se domar o Douro eram usados bois para puxar os rabelos Douro a cima e não esquecendo a arte xavega tive sorte de ainda ver os bois a puxar as redes de pesca
 

belem

Cumulonimbus
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Uma raça que também já foi usada para tração e representa o ramo europeu/euroasiático, é a raça Mirandesa.
É uma raça, em que maior parte do núcleo populacional, tem ficado isolado de todas as outras raças, por muito tempo e que preserva também um património genético de grande valor.
A Mirandesa foi das raças mais comuns em Portugal, até um passado relativamente recente (ainda na primeira metade do século XX encontrava-se bem distribuída pelo Centro do país).
Com o tempo e as mudanças das práticas agrícolas, foi sendo puxada para o Norte.
Na bacia do Douro, ainda ocorre gado relacionado com a Mirandesa (no interior) mas não é muito conhecido pelo público em geral. O núcleo principal ocorre mais a Norte.
Tal como várias raças do Norte de Portugal, a Mirandesa, nos tempos que correm, passou de gado de tração para gado de carne (sobretudo).
São bastante raros os exemplares primitivos de raça Mirandesa.
 
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